terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Técnica da Fragmentação.

O custo da peça na restauração de um veículo amassado, às vezes é o que mais encarece o reparo, todavia a troca da mesma nem sempre pode ser considerada a melhor solução para o restauro. Isto se deve as consequências da troca:  casos em que o corte será feito em uma área muito grande, com remoção do tratamento original anti ferrugem, e emborrachamento que não será tão preciso como na fábrica, a desmontagem de vidros ou frisos colados, e o próprio tempo que se perde para efetuar o corte e depois a pintura... Enfim, visando dar uma opção para os proprietários de veículos e uma facilitação ao trabalho do funileiro, eu passo a seguir uma técnica que desenvolvi para estes casos, que ao meu ver (quando bem utilizada) só gera lucro para o funileiro e satisfação para o cliente. A técnica da fragmentação.
Na foto ao lado, um Fox com um amassado cujo epicentro (a área central do impacto) é o alojamento da lanterna e canto do painel traseiro, se fosse para trocar peça, a peça em questão seria o painel lateral traseiro direito, peça inteiriça que se prende ao teto e a caixa inferior. Alem disso a parte interna da lateral também foi atingida, o que deve ser corrigido com o realinhamento da mesma para receber a nova peça. E videntemente o para-choque foi destruído, o que não vem ao caso agora . Muitos funileiros optariam por um "enxerto", com a compra de um pedaço de traseira em um desmanche, que seria recortado e adaptado ao veículo (inteiro ou não, à critério do profissional). Bem, vamos tentar restaurar este Fox sem gastar muito tempo, dinheiro e ainda garantir que o trabalho fique melhor do que se fosse trocado a peça.
O primeiro passo é definir o epicentro do amassado, isto é: a área mais prejudicada pela batida, o alvo principal da colisão, a parte mais afundada. Após o que deve-se fazer um recorte neste local, recortando a menor área possível, levando-se em conta apenas que o recorte deve ser grande o suficiente para ser usadas as ferramentas de funilaria, como tarso e alicate por exemplo. Utilize para este fim uma talhadeira fina, evite cortar com discos de corte ou martelete de recorte para não perder nenhum material da lataria.

A foto ao lado mostra o tamanho do recorte, note que o mesmo não é to tamanho do amassado, mas dá para visualizar a chapa interna da carroceria também amassada, e será por esta abertura que iremos desamassar e realinhar a área total do amassado, usando martelo e tarso, e conferindo sempre o trabalho com as outras peças que compõem o carro, como lanterna e tampa do porta-malas, comparando com o outro lado intacto, como sempre aconselho fazer.


A foto ao lado mostra o local do amassado, já alinhado, conferido com as peças limítrofes, quanto as distancias e encaixes e quanto ao outro lado intacto. Quanto melhor for trabalhado esta área melhor será o encaixe do recorte que está faltando.








A foto ao lado mostra o recorte, note que ele está bem deformado, pois é o local mais afetado na batida e as rugas e vincos após rebatidos não caberão no buraco que ficou na carroceria, a estampa original foi totalmente comprometida, suas formas são complexas e mesmo que saibamos como é a forma original, a chapa ficará distorcida principalmente nos vincos mais agudos onde a chapa se expande devido ao impacto da batida e aos golpes do martelo na ação de desamassar.


A técnica da fragmentação: A única forma de recompor a estampa deste recorte é trabalhando fragmentos do mesmo, ou seja: dividir em pedaços o recorte, estes pedaços devem ser cortados com uma tesoura de funileiro, para que não falte pedaços na reconstrução da peça, se fosse cortado com uma serra ou disco de corte, a soma de material retirado das bordas dos pedaços causariam uma diferença grande e a soldagem ficaria dificultada. A orientação do corte também é fundamental para a reconstrução da peça, como tentarei explicar com a foto a seguir.


A linha pontilhada em vermelho indica um corte separando a parte mais fácil, que é indicada pela seta vermelha, toda esta área foi praticamente preservada, e os acertos são mínimos o que não compromete o encaixe no seu devido lugar na lataria do veículo, já a  parte superior, possuí dobras que foram comprometidas na batida além de duas rugas bem agudas que deformaram a chapa, o que define a parte mais critica do trabalho. Se fossemos tentar desamassar a parte de cima inteira, devido às dobras originais que este pedaço de lataria possui, o resultado seria um pedaço de lata "empenado", porque houve na batida e no processo de desamassamento, uma distensão, ou seja: a chapa literalmente esticou. Isto vai causar mudanças nos ângulos, que darão a forma original da estampa. Para conseguirmos a forma original, portanto, devemos cortar a parte superior em seus dois pontos mais críticos, o que irá facilitar a recomposição dos ângulos que a estampa possui. Neste caso, fragmentando o pedaço em outros quatro fragmentos.
Trabalhando cada pedaço em separado, pode-se conseguir a restauração da peça, reconstruindo a forma original com os fragmentos posicionados em seus respectivos locais, como se fossem pedaços de um quebra-cabeças, levando cada pedaço em separado, e soldando na lataria do veículo. Aí sim os ângulos e curvaturas da estampa serão reconstituídos como na forma original. Evidentemente que cada fragmento será ajustado ao buraco deixado na carroceria individualmente, o que implica em controlar o trabalho o tempo todo, etapa após etapa, sem ter que desfazer o que já foi feito anteriormente, pois o resultado de cada posicionamento e soldagem é imediato e controlado.
Aqui ao lado, vemos o primeiro fragmento já soldado, e o segundo sendo ajustado em sua posição, observando os ângulos e as curvaturas da peça, comparando sempre com o outro lado intacto, vamos recompondo  o pedaço que falta na lataria do veículo.




Na foto ao lado, a soldagem do terceiro pedaço da parte mais complicada desde a primeira análise do amassado.






Na foto ao lado, o quarto e último fragmento é soldado à lataria do veículo, faz-se a conferência do alinhamento, lanterna e para-choque, neste caso, e tudo certo e conferido, o trabalho evolui para as outras etapas. (esmerilhar, isolar a chapa nua, massear, lixar, etc... ) Porém a chave da restauração deste trabalho foi esta técnica que permitiu aproveitar a mesma peça.






 O serviço concluído! Se você gostou, tem dúvidas ou mesmo criticas, comente. Meu blog só pode evoluir com o seu apoio e interesse, navegue por outras páginas, deixe seu registro no  gadget "seguidores" ou mesmo envie um e-mail, até a próxima!!!

11 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esta postagem! Apesar de não ter entendido muito bem, o resultado do trabalho foi perfeito!

Álien a Fera disse...

Boa noite.
Você pediu e eu atendi,visitando seu blog,para minha surpresa dei de cara com um excelente trabalho,o qual desconhecia,tem que divulgar mais seu blog.
Caso precise de ajuda,entre em contato,pelo formulário de contato do meu blog.
http://alienxpredador.blogspot.com/

Abraços
Álien a fera

Renato D. Okiyama disse...

Otimo trabalho!

Muito interessante a tecnica!

Sofri uma batida em local semelhante, porém com uma proporção maior, ver este post me da maior tranquilidade caso o reparo seja feito de forma semelhante!

Wilson Guttler disse...

espero que sejam úteis as informações que passo! obrigado pelo comentário e boa sorte no restauro do seu carro!

Wesley disse...

Olá!
Wilson, no caso da Mig vc. usa com que regulagem?
O que vc. usou para nivelar as soldas?

Obrigado!

Wilson Guttler disse...

Olá Wesley! Eu usei uma MIG eletrônica com arame revestido (0.8). Sua regulagem é bastante simples para a grande maioria das chapas de autos: potencia minima e velocidade do arame em 2 ou 3.

Wilson Guttler disse...

Ahh sim, ia me esquecendo... O nivelamento começa com uma esmerilhadeira, pode ser completado por uma lima de funileiro e a seguir o primer. Estes cuidados evitam que o uso de massa plastica ou poliéster diminua, mas sempre é necessário o seu uso, para um trabalho de qualidade.

Wesley disse...

Wilson, estou gostando muito do seu blog. Sou auto entusiasta e "mecânico/funileiro" nos finais de semana aprecio muito o seu trabalho. Com a restauração do Uno Turbo estou aprendendo bastante com seu blog. Acho que estou até pedindo muita ajuda sua e que você responde com a maior atenção.

Obrigado!

Wilson Guttler disse...

Sem problemas Wesley! Pode perguntar à vontade, minha maior satisfação é compartilhar conhecimentos que ajudem a incentivar a propagação da profissão que eu pratico e gosto acima de tudo. Com certeza seu Uno ficará ótimo, pois a melhor ferramenta é a dedicação e vc é muito dedicado. Ahhh! Mais uma coisinha: no meu último comentário a frase final ficou meio sem sentido, mais correto seria "Estes cuidados contribuem para que o uso de massa plástica ou poliéster diminua"... Abraços! *-*

Unknown disse...

Wilson ainda por ai? gostaria de saber o local onde voce mora,tenho um gol quadrado e gostaria de RESTAURAR e preciso de algumas dicas.

Anônimo disse...

Parabéns pelo trabalho e profissionalismo.