sábado, 7 de março de 2015

Restaurando o fusca 67 (parte 1)

    Olá amigos do Técnicas em Pintura e Funilaria !! Estou de volta para mostrar a vocês mais um pouco do meu trabalho no ramo da restauração automotiva... Nesta postagem vou relatar um trabalho longo e minucioso que realizei em um fusquinha 67. Os fuscas ainda são uma paixão para muitos e atualmente os profissionais que sabem e gostam (porque é preciso gostar mesmo destes carrinhos!) de conserta-los estão ficando cada vez mais escassos. Eu adoro consertar carros antigos e depois do Jipe Willys o fusca é o meu preferido, tanto que estou com outros dois aqui na oficina que pretendo terminar ainda neste primeiro semestre de 2015. Este fusca já havia passado em uma oficina para reforma, mas o resultado não foi aquilo que seu dono esperava, também pudera! O trabalho foi mal feito e incompleto, impossibilitando inclusive a montagem final. Aceitei o desafio deste trabalho sem ter a noção exata daquilo que teria que fazer, o que aliás é normal pois um trabalho assim passa por uma investigação detalhada de tudo aquilo que é preciso fazer e de todas as correções necessárias para fazer valer o investimento de tempo e dinheiro em retorno material, além da satisfação é claro de ter o trabalho reconhecido. Vamos a ele?



O fusquinha estava "maquiado", onde havia trincados e bolhas, bastava umas batidinhas com o martelinho de ponta para que a massa plástica se soltasse e o ferrugem aparecesse, como nesta ponta de saia traseira, vemos uma chapa corroída e rachada, enfraquecendo a estrutura da lataria...




Aqui, já sem o motor, além de ferrujem ainda exposto vemos um defeito estrutural, circulei em vermelho na foto um rasgo provocado pela oscilação do escapamento, mais tarde eu descobri que o motor estava descentralizado e raspava na carroceria do lado esquerdo, enquanto que no lado direito sobrava espaço.




Do outro lado no cofre do motor, buracos de ferrugem (assinalados com o circulo) e a estrutura do bacalhau solta (destacado pela linha pontilhada). Durante o trabalho descobri que os bacalhaus precisariam ser trocados pois suas furações não batiam com as dos suportes de para-choques.




Ao lado vemos toscamente instalada uma manta anti-ruído. Ela deve ser fundida com calor a carroceria mas no caso esta completamente solta, além disto o revestimento é uma previa do revestimento final que é o papelão do motor que vai sobre a manta. Acho que quem montou desta forma usou equivocadamente a manta como se fosse o papelão final.




Ainda no cofre do motor podemos ver que ao pintar não houve o menor cuidado na restauração. Áreas sujas de terra permaneceram sujas e a tinta foi aplicada sobre a sujeira, somente para maquiagem do estado de conservação. A cada momento surgia mais trabalho...



Haviam diversos pontos estruturais comprometidos, o que inevitavelmente causariam ruídos e desestabilizariam a dirigibilidade do fusquinha. Na foto 06 vemos os calços de carroceria comprometidos, os suportes tortos e soltos, a seta aponta para a falta do parafuso e mais que isto: não é possível simplesmente recolocar outro parafuso pois não há rosca na suspensão. O circulo mostra que a arruela foi adaptada de uma outra que é usada no assoalho. Além disto os suportes estão empenados e descentralizados em relação a suspensão.



Ao lado vemos uma gambiarra enorme que foi feita para fixar a carroceria evitando trepidações e ruídos: Trata-se de uma cantoneira soldada na cangalha que por um furo na ponta seria aparafusada ao cabeçote (sinalizada pela linha pontilhada em vermelho). Mais abaixo em destaque, um remendo "flutuante", só para tampar um buraco de ferrugem. Tais consertos só fazem esconder e dificultar a solução dos problemas...


Do outro lado a mesma coisa. Também é possível perceber que nesta área houve maquiagem de ferrugem com massa plástica. Um trabalho cuidadoso e preciso deve ser feito na base da cangalha para garantir a plena fixação da carroceria ao chassis.





O desalinhamento frontal é causado por batidas não devidamente restauradas, como claramente vemos aqui na foto 09. Trata-se da caixa de estepe, do lado direito. O outro lado também está torto, mas o carro foi montado assim mesmo. Vemos no detalhe mostrado pela seta que o suporte do batente da suspensão foi retirado, derretido com solda elétrica.


Notamos que apesar do fusca ter sido pintado inteiro, detalhes em partes inferiores foram esquecidos. Na foto 10 vemos isto e mais: assinalado pelo pontilhado vermelho uma distancia entre o suporte de macaco do assoalho e a caixa de ar. Isto deixa esta área vulnerável a stress pelo uso, pois a cada troca de pneu ou uso do macaco neste ponto, ocorre mobilidade nas partes submetidas ao esforço, tal mobilidade acarreta trincos e quebras de pontos de solda.

Na foto ao lado vemos em destaque no circulo o suporte de sustentação do assoalho que sai da estrutura do chassis cortado e o esboço do restauro que deve ser feito em amarelo. Evidentemente ao trocar o assoalho este suporte foi retirado para facilitar a troca mas não foi refeito. Isto fragiliza a estrutura do fusca. No pontilhado em vermelho destaco a uma espaçamento excessivo entre o assoalho e a carroceria, isto deve ser corrigido para evitar entrada de água e ferrugem futuramente.


Não são poucas as adaptações grotescas encontradas, como esta enorme arruela de assoalho usada para prender o para-lama a carroceria. Como a furação não coincidia, o montador resolve cortar a aba do para-lama abrindo um rombo para conseguir aparafusar o último parafuso. Este método de montagem foi repetido também nos outros para-lamas.




Quando do primeiro contato com o dono do fusca, ele me adiantou os principais defeitos que ele gostaria de arrumar, entre eles o alinhamento da porta esquerda. Ela simplesmente não fechava, ficando pendurada no primeiro estágio do batente de porta. Além de arriada, o funileiro anterior esmagou o fundo da porta para fazer com que ela coubesse no quadro. De inicio eu acreditava que esta seria a pior etapa do trabalho, porém ainda haveriam danos maiores ainda para serem corrigidos. Na foto numero 13 aponto o desalinho entre a porta e a coluna.



Após algumas batidas de martelo na bandeja do cabeçote, percebo que os pedaços vão caindo como que desfarelando. Logo os buracos vão surgindo. Havia um pouco de massa do tipo KPO, mas todo aquele ferrugem foi uma surpresa até para mim. De imediato eu considero a troca da bandeja do cabeçote ou até mesmo do próprio cabeçote completo, como a melhor solução para o conserto.


Olhando o fusquinha recém-pintado e parcialmente montado com algumas peças novas, ninguém poderia imaginar que ainda restava tanta coisa para fazer e refazer. Liguei para o seu dono e disse que o relatório das coisas que eu julgava necessário arrumar estava pronto e que ele deveria vir até a oficina para conversarmos sobre o trabalho. Também alertei que durante o trabalho poderiam surgir outros detalhes ainda não observados. Tudo acertado iniciamos os reparos...

Dei inicio ao trabalho pela porta esquerda já que era o ponto que mais incomodava o dono do fusquinha. A foto 16 mostra a mesma já retirada e como seu fundo foi esmagado para poder encaixar no quadro e além de tudo como ainda estava bem enferrujada! No detalhe ressaltado vemos os buracos do ferrugem e os amassados propositais. Decidi que a troca do fundo de porta seria necessária para conseguir o devido alinhamento e também para corrigir todos os locais esburacados pelo ferrugem.

Minha estratégia para realinhar a porta foi fazer um corte na base da coluna, desta forma eu conseguiria mobilidade para suspender a mesma até o ponto de alinhamento com a coluna do batente. Na foto 17 está  exposto como: o corte fragiliza o pé-de-coluna e uma vez que alavancamos a porta no sentido da seta, conseguimos subir a porta até a altura de alinhamento. É claro que outros ajustes serão necessários, mas a ideia funcionou perfeitamente.




Uma dificuldade extra nestes trabalhos de alinhamento que envolvem soldagem é que o calor das soldas acaba por deformar a chapa no sentido em que ela é tensionada causando uma fuga de posicionamento a medida que a chapa esfria. Eu usei solda elétrica, que por ser instantânea causa menos deformação mas mesmo assim tive o cuidado de calçar firmemente a porta no quadro antes de soldar o corte, como demonstro na foto 18.





Após ter concluído a soldagem em vários trincos na coluna (sim o pé-de-coluna estava com vários trincos, bem como no encaixe da dobradiça superior) e no corte que fiz para suspender a porta. Apliquei acabamento com massa plástica, lixei e selei com um primer universal. Desta forma o trabalho ia aparecendo lentamente. Na foto 19 demonstro a conclusão do alinhamento nos dois lados da porta. Satisfeito com o resultado, sigo em frente...

Retirei a suspensão e iniciei os reparos no cabeçote, decidi que trocaria somente a bandeja e corrigiria eventuais danos causados pelo ferrugem na estrutura restante do mesmo. Imagem 20a: inicio da retirada da bandeja corroída, quanta sujeira e ferrugem acumulados dentro do cabeçote!... Imagem 20b: Removi totalmente a bandeja, após isto, aproveitando o acesso escovei e tratei os ferrugens. Na 20c a bandeja nova, uma peça de fabricação paralela mas que será de grande ajuda. E finalmente o ajuste e soldagem dela na imagem 20d. Soldei todos os pontos cruciais, por cima e por baixo, fazendo com que o cabeçote voltasse a ter a resistência perdida com a corrosão... Bem, como este trabalho foi longo e repleto de detalhes vou dividir o material de postagem em partes que publicarei na medida em que forem feitas. Obrigado pela atenção dispensada e até a próxima!!